Sunday, February 11, 2007

RUY VASCONCELOS



mencionado por:
Eduardo Jorge
Júlio Lira
Diego Vinhas

Menciona a:Aldir Brasil Jr.
Angela de Campos
Age de Carvalho
Júlio Castañon Guimarães
Diego Vinhas
Duda Machado
Eduardo Jorge
Francisco Alvim
Júlio Lira




3 poemas



Piano


sob o jasmineiro
em flor

um passante recolhe
uma moeda

no instante em que
o velho

com um quarto minguante
de dedos

quebra o chapéu sobre
a testa



Senão por si e mangue


não há trincos
a água está aberta
e chuva deitou-se em rio
e compassada pressa
que senão por si e mangue
se diria de tão claro
rio recolhido
em bacia de flandres

refluir calmo de arestas
leve desprumo nas divisas d’água
cracas floram carnaúbas
sob trapiche
guirlanda de visco, algo ou lodo
que senão por si e mangue
se diria de tão breve
lapso de luz sobre água














Mediterrâneo


a cor do jaspe
cintila a cada passo

a orquídea secreta
apressa-se das folhas

paro para fitar
os olhos do miúra

e a frialdade da noite
sopra vagamente

um hálito de água





Ruy Vasconcelos
Professor da Universidade de Fortaleza. Compôs canções, roteirizou e dirigiu documentários, editou algumas traduções, publicou poemas e textos diversos, por vários meios, no Brasil e exterior. Tendo morado em diferentes regiões brasileiras e na Inglaterra na década de 90, fixou-se em Fortaleza, em 2002. Optou por não reunir seus poemas em livro.


Poética
Sem dúvida dois poetas maiores do séc. XX são Robert Bresson e Carl Dreyer. E, de resto, as palavras de George Oppen: “Dificilmente a obra de poetas contemporâneos é o vetor mais importante na consolidação da obra de um poeta em formação. Quase sempre não é.” Então, resta o sabor da companhia, aroma de conversas, escolhas afetivas.



5 comments:

Anonymous said...

Dificilmente encontros mal resolvidos podem resultar em uma satisfacao com sua propria época.
nao resta companhias, mas tudo que se pode criar pode tambem sair de um mal encontro com sabor de peneirar o pó superflúo, mas isso já é outra conversa...

Ruy Vasconcelos said...

prezado afonso,

vamos ver se entendo ou não, suas assertivas. digo que, em régua e esquadro, difícil entender q. poesia rime com satisfação. quer dizer, não se faz poesia propriamente para estar "satisfeito". ou mesmo para "satisfazer" os outros. francis ponge, p.ex., brinca um tanto com isso, ao ironizar: "o q. quero mesmo é agradar a todos, etc." mas quando se vai ler a poesia dele, como aliás, a de cabral, ela segue de encontro a todo um modo de fazer. no caso de ponge, uma fórmula à francesa. mais adiante, ele expande esse comentário: "do ridículo não se escapa". é claro, tampouco se faz poesia para gerar encontros (bem ou mal resolvidos, não importa). faz-se por algo que se sente e não se sabe explicar - embora seja bom buscar ser rigoroso com essa falta de explicação e, em especial, com a artesania, com o modo de fazer esse algo q. é vedado saber fazer. alguns chegam - e vou usar um palavrão, para muitos de hoje- a um 'estilo'. difícil saber quem expressa melhor o presente estando tão rente ao presente. há impressões - umas mais graciosas que outras, ou mais argumentadas, instrumentalizadas. mas só. hoje, por exemplo, uma impressão: temos levas de 'não-poetas', que fazem 'não-poesia' sobre 'não-lugares'. iriam fazer muito sucesso dialogando com o thomas more da 'utopia'. ou então, há os q. copiam, de forma servil, os modelos - sobretudo norte-americanos - mais diluídos por aqui: pound, williams - e, em especial - creeley, 'language poets' et all. e, claro, sem lembrar-se da sugestão antropofágica, q. é muito lúcida, quanto a essas "apropriações". a rigor, poetas como mário faustino ou joaquim cardozo (q. traduziu william carlos williams) estavam longe de imitar servilmente. de resto - com as exceções de praxe - há gente escrevendo à celan, sem conhecer alemão; haicaístas q. não fazem pálida idéia da estrutura do ideograma ou sequer possuem alguma mínima referência da cultura japonesa; há neo-barrocos que nunca leram gracián; há poetas q. se dizem mais pertos da música, sem qualquer conhecimento de música ou sequer uma 'intuição musical' q. se possa sentir na palavra. e vamos por aí. aliás, talvez seja preferível estar "insatisfeito", na vertente de torquato: "desafinando o coro dos contentes ('satisfeitos')". quando oppen diz o q. vai acima, ele se refere à sua própria poesia, q., de acordo com ele, bebeu mais na fonte do 'the seafarer' - épico medieval em anglo-saxão; do poema anônimo do sec. xvi 'o western wind'; dos metafísicos ingleses do sec. xvii; e de blake do q. na sopa - aliás bem densa - dos modernistas americanos seus contemporâneos, dos objetivistas, etc. assim como, naturalmente, um poeta brasileiro dos dias de hoje pode muito bem estar mais interessado em, ou se achar mais próximo do cancioneiro medieval, do 'poema do cid', do quinhentos português, de vieira, do q. de seus pares atuais, ou das tendências, delineamentos ou ressonâncias de hoje, percebe? um paroxismo disto é o poeta cearense josé albano - incluído por manuel bandeira na sua antologia de bissextos. albano era tão fascinado pela poesia de camões, e pelo "quinhentos" português, q. acabou enlouquecendo.
sobre "peneirar o pó supérfluo". não sei bem dessa implicação. é bom estar aberto a pluralidades, embora com senso de triagem. é possível ser amigo e não se sentir particularmente "fisgado" pela escritura do(a) outro(a) - o q. não significa falta de respeito ou consideração ou afeto(acho q. se pode ilustrar esse fenômeno com joão cabral e joaquim cardozo. ao q. parece um não se afetava realmente com a poesia do outro, e vice-versa, o q. não impediu amizade, muita conversa, indicações de leitura. ou mesmo q. cabral editasse, em prensa manual, um livro de cardozo). hoje a coisa anda toda muito cosmética e cheia de rapapés. cabral, do contrário, diz abertamente: "eu acho a obra do cardozo extremamente importante, mas não teve influência sobre mim". esse tipo de comentário, mais desabusado, mais honesto, se ouve muito pouco, atualmente. no fim, não acredito q. "vida literária" (contatos, distâncias, amizades, inimizades, afetos, préfácios, resenhas, antologismos, etc.) seja um índice de "literatura". e, de fato, ainda penso na poesia, como linguagem autônoma nesses tempos de "interdisciplinaridades", onde "vale tudo". o q. obviamente não quer dizer q. não se encontre poesia na pintura, na arquitetura, no cinema (como no caso dos dois cineastas citados acima como grandes poetas: bresson e dryer). mas creio q. quanto mais dissociadas umas das outras, melhor as linguagens se prestam, e, paradoxalmente, mais elas se convocam. de resto, viemos do pó. e ao pó voltaremos. é esta, aliás, a certeza única. esse "memento mori". enquanto isso não chega, vamos nos lembrando de q. vai chegar, mas q. não chegue já, como diz drummond, com certa graça. e enquanto não chega, a gente pode entreter o espírito. inclusive com poesia. agora isso, como vc. bem sugere, já são outros carnavais...

abs.

Anonymous said...

Muito belos poemas!

Anonymous said...

Prezado Ruy

Dificilmente a obra de poetas contemporâneos é vetorial, isto é, o que arrasta ou leva a destilacoes inigualaveis, percebo que voce desfigurou meu simples comentario, 1° porque acho que seu comentario tentou interpretar o que eu disse de forma a mostrar um certo conteudo seu, sendo que o que disse nao tem uma relacao necessaria com alguns canones que disse. ademais, meu comentario nao tem um senso de continuidade, é esquiso. voce talvez quis entender meu simples comment, mas achoo que as linhas nao se explicam, isto é, nao tente referenciar linhas esquizofrenicas com linhas lineares, ou quase...

Anonymous said...

RUY RELIDO


o jasmineiro em flor

a cor do jaspe

a orquídea secreta

e a frialdade da noite



*

(o belo está de volta à poesia! viva!)

Mirthes Braga