Wednesday, November 22, 2006


MARCO DUTRA




mencionado por:
Heitor Ferraz
Caetano Gotardo

menciona a:
Juliana Rojas
Carla Kinzo
Vanessa Reis
Caetano Gotardo
Rafael Gomes
Paula Manzo
Lilian Aquino




Poemas:



máquina extraordinária

o jornal noticiou o lançamento do novo disco
de uma adorada cantora pop

o jornal revelou que, durante os seis anos em que esteve sumida,
ela não comprou nenhum sapato novo
nem ficou se espreguiçando por aí

“ainda tenho o costume de andar a pé, e a pé os caminhos são mais longos

vamos colocar minha ausência numa linha do tempo
e dividi-la em três fases

o recolhimento
eu me deitava e rolava no chão
chorando
e não recebia visitas

a calmaria
era a casa da praia
não muito longe daqui
eu não recebia visitas

a inspiração
eis que deus me devolveu as canções
e a única visita que recebi
que me quiseram fazer
nessa terceira fase
foi a dele”

cantora pop, você ainda acredita no suicídio?

“não, não mais”

e ainda não acredita em casamento?

“em casamentos passei a acreditar”

quando diz em sua canção
que foi estuprada aos nove anos
é a verdade?

“desde setembro de 84 que sonho
em encontrar uma pessoa
que não seja eu
e que não seja outra pessoa”
o jornal noticiou o retorno da cantora pop
com alguma ironia

“eu ainda choro e quase sempre é ao redor das dez da noite, e várias vezes me encontro andando pela praia quando estou na casa de praia, mas isso é o presente e eu não consigo dividir o presente em fases. vocês conseguem fazer isso? me parece muito complicado.”

o jornal noticiou
a pausa que a cantora pop fez
antes de continuar

“na canção eu digo que sou uma máquina extraordinária porque tudo que acontece eu consigo aproveitar, coisa boa, coisa má, tudo que me acontece eu uso. o meu terapeuta disse que essa é a melhor fase da minha vida, essa pela qual estou passando agora, mas o meu terapeuta, apesar de não ser eu, infelizmente é outra pessoa. prometi a ele que tudo ia ficar bem. mas as histórias precisam ser contadas ao contrário pra que os finais sejam felizes, e não se pode fazer isso por causa da linha do tempo. me parece muito complicado.”

estas últimas falas
o jornal não noticiou
por falta de espaço




13 de fevereiro

Hoje só me ocorreu

“O amor também
é como uma nectarina”

Não porque o sentimento
tenha qualquer coisa a ver
com a fruta

As duas palavras
boiaram juntas
e foram encontradas
à margem
como cadáveres

Amor

Nectarina







O convento abandona Maria

Um capitão com sete crianças

Uma casa enorme
e um capitão
com sete crianças

Uma baronesa
numa casa enorme
com sete crianças
e um capitão

Ontem mesmo eu rodopiava pelas colinas
E elas estavam vivas
Com o som da música
E eu não era uma governanta

Agora
até aquela mulher que me encara
sorrindo
e me oferece tomates
nesta feira em Salzburg
neste país que eu amo
acima de tudo
menos de Deus
Até dela e dos seus tomates
eu tenho medo

Mas não

Tenho medo é do capitão

Que
Por ter sete crianças
Sem contar a que nasceu morta
Deve gostar muito
De fazer sexo








Breve biografia:

Nasci em 1980. Estudei Cinema. Escrevi e dirigi os curtas “O lençol branco” (com Juliana Rojas) e “Concerto número três”, entre outros. Gosto de escrever e escrevo menos do que gostaria. Algo do pouco que foi terminado está no blog (
http://www.marcodutra.blogger.com.br/), o resto está espalhado ou perdido. Só me publicaram antes no colégio, num livro com as supostas melhores redações do ano.

Poética:
Como uma mesa num bar, num café, as pessoas ao redor.

6 comments:

Anonymous said...

olá, marco,
bacana seus poemas! alguma coisa que falta e sinto na poesia de cá: humor. mas de um humor esquisito.
veja minha cara. estou na lista do lado.
abraços, carlos augusto

paula manzo said...

mas que lindo o marco dutra! (canalha, para os íntimos)

Anonymous said...

A CANTORA DISSE, NA ENTREVISTA
(remake de um poema de marco dutra)


1.
“ainda tenho o costume de andar a pé, e a pé os caminhos são mais longos

vamos colocar minha ausência numa linha do tempo
e dividi-la em três fases

o recolhimento
eu me deitava e rolava no chão
chorando
e não recebia visitas

a calmaria
era a casa da praia
não muito longe daqui
eu não recebia visitas

a inspiração
eis que deus me devolveu as canções
e a única visita que recebi
que me quiseram fazer
nessa terceira fase
foi a dele”

2.
“em casamentos passei a acreditar”

3.
“desde setembro de 84 que sonho
em encontrar uma pessoa
que não seja eu
e que não seja outra pessoa”

4.
“eu ainda choro e quase sempre é ao redor das dez da noite, e várias vezes me encontro andando pela praia quando estou na casa de praia, mas isso é o presente e eu não consigo dividir o presente em fases. vocês conseguem fazer isso? me parece muito complicado.”

5.
“na canção eu digo que sou uma máquina extraordinária porque tudo que acontece eu consigo aproveitar, coisa boa, coisa má, tudo que me acontece eu uso. o meu terapeuta disse que essa é a melhor fase da minha vida, essa pela qual estou passando agora, mas o meu terapeuta, apesar de não ser eu, infelizmente é outra pessoa. prometi a ele que tudo ia ficar bem. mas as histórias precisam ser contadas ao contrário pra que os finais sejam felizes, e não se pode fazer isso por causa da linha do tempo. me parece muito complicado.”


Buda Nagô

Anonymous said...

alguém sabe quem é a cantora?

Anonymous said...

bom remake, the bare necessities.

vanessa reis said...

aaah, menino.