Tuesday, September 05, 2006

MARCELLO SORRENTINO




mencionado por:Paulo Henriques Britto
Claudia Roquette Pinto

menciona a:
Marcelo Casarini



poemas:


Perversa aerostação


E a natureza continua fazendo loucamente pessoas como eu,
mandando-as de encontro a mim, como você.

Eu vejo agora o que estamos fazendo: dizendo não
às flores para que sejamos nós a única flor.

E concedamos um terrível encanto à vida,
desfibrando flores sob o noturno

Algodoal de estrelas, beijando o devastado flanco
da lua, que também usa nossas máscaras de ladrão.

Posso sentir agora mesmo Deus nos imaginando,
o Tempo nos colecionando como borboletas:

E é lindo arder na invenção dos outros, florir
e ser segado como a safra de uma idéia!

Ó amigo, eu não sei como dizer que amo, tanto,
que me preocupo, de verdade, com a sua morte.

E se por amar com esta agonia das mães
voltassem os milagres aos meus lábios?

E usando os cabelos como colar, eu sorrisse só
porque um besouro ou um bambu perfuma o vento?

Mas estamos apenas num poema onde há muito
as montanhas e as flores vêm mentir.

Onde há mais tempo que as sombras eu ando
em minha direção, juntando com as mãos o céu rachado.

Continua porém a natureza a fazer pessoas como eu,
mandando-as de encontro ao céu, numa perversa aerostação.

Quem sabe o corpo enfim aprenderá sem perguntar?
Mas de pernas de fora, tento ainda interrogar o mar,

Enlouquecendo porque o mar não pára de responder,
e vagas, e vagas são as suas respostas.





Johnny e a Flor Teimosapara Paulo Henriques Britto


alumiou o sonho um liso apelo rosa:
era delicado Johnny, seus olhos
tão pink e desditosos, de charmosa
fêmea voz “I can love you em teus pólos
like nobody. Try me, flor teimosa”.

dear Johnny sob postes, doce parte,
como reservas teu amor intacto
dos garçons assassinos do Caesar Park?
(há uma mulher morta no 104
e a puta loucura que me ama, arde)

há quanto espero, dear (noite sem falhas)
que alguém ame meu xadrez com sombras.
O sonho febril do toque nas galáxias

é o amor do jeito mais sozinho que ri;
em meus teas alone, Oh Johnny, eu percebi
que nobody loves me enough to kill me.



Um demônio abrindo uma flor

Você está ante o portal de novo
Você veio
Roubar a chave nos chifres da fera
Para abrir uma flor inimiga, uma
Metaflor
Que floresce dentro de si.

Você está ante o portal de novo
Você veio
Refundir o que destruiu, ah o esquecido
Poder de ser você: um
Escravo
Encrustado de pedras preciosas.

Você veio
Porque de novo subiu numa mulher
Em falso, porque
eis outra mulher a jogar
os dados do gozo sobre você.
E agora vem roubar o poder dos mortos
Para dominar os vivos.

Você veio
Porque Deus o seguiu
E não conseguiu alcançá-lo.
Porque você tem visto os inimigos
E com eles ciciado que o céu
é só uma espécie de teto, que um pássaro
é um prazer difícil de abrir.

Você está ante o portal de novo
E um pedido arde nas artérias:
Vá e faça a sua própria colheita
Com uma foice cravada de pedras preciosas.
Sua alma negra veio, você:
Um escravo que não confia em ninguém
Que não coma a sua carne.

Você está ante o portal de novo:
Um demônio abrindo uma flor
Inimiga, que floresce contra si.
E a sagrada morte do pensar começa agora.
Com firmeza, filho, dá início ao seu fim.
Porque finalmente você se seguiu
E não conseguiu se alcançar.



Disco Discontent

porque eu tinha tudo para ser o verão
e deito o encarne aos cães para os tornar ferozes

porque tiraram a minha foto no escuro
e eu não sei se vou aparecer

O corpo e o sangue de Cristo

porque eu deveria ter a ciência das cozinhas
e estou na desordem dos banheiros de boate

porque eu sou o discurso
quando deveria ser uma pichação de banheiro

A carne e o sangue de Cristo

porque eu nasci livre
e pertenço a uma geração eletrônica

porque eu não vejo que na repetição
há pureza e alegria

O sangue e o corpo de Cristo

porque eu não sei o que é uma nêspera
ou como as coisas são sem mim

porque eu sou tudo que seria legal
mas agora não

O sangue e a carne de Cristo

porque todas as portas foram destrancadas
e eu não vou

porque demoro quando está tudo
absolutamente pronto

O corpo e o sangue de Cristo
seria tão doce




Vinha a natureza toda alterada com a questão Marcello Ao Casa




Vinha a natureza toda alterada com a questão Marcello:
1) fumando vaga-lumes, o vento vagava como um velho;
2) hibiscos viravam relógios de pólen nas tranças das heras;
3) era tão tarde que nenhum relógio tinha horas pra quão tarde era.

O problema não era Marcello. Marcello era a ponta do iceberg:
entre sereias silentes, uma estátua sonhando que se ergue.
Que mata elefantes e vai às igrejas fazer-se marfim
para dizer: Ó Deus, quero ser livre de Ti como Tu és de mim.

O problema não era o público de Marcello desacreditado,
nem o setor econômico desacreditado de Marcello.
Pois ao começar a escrever “Marcello”, Deus já tinha pensado
em “Armadilha para Marcello” como nome do Evangelho.

Não. O problema de Marcello não era Marcello e sim
pedir a Deus que lhe caísse o fogo todo da terra e o marfim;
ao Cristo, nos céus, carregando uma enorme cruz Louis Vuitton,
passando fogos de artifício nos lábios como batom.



bio/biblio

Marcello Sorrentino nasceu no Rio em 20 de agosto de 1975. Segundo a mãe, é um rapaz bom e limpo. Segundo o pai, tem demasiado medo de errar e consome muito álcool. Publicou "um pequeno sistema de incerteza" pela 7letras em 2006.





4 comments:

Anonymous said...

Marcello, me perdoe...mas você é GENIAL!! cheers!!

Anonymous said...

oba,

pra quem quiser entrar em contato comigo, meu e-mail é

marrentino@yahoo.com.br

Anonymous said...

quando recebi o livro com que me deu, fiz de contas para não abrir no momento, ao chegar em casa tive uma surpresa ao folhea-lo, cada pagina que abria aleatoriamente me causava estranheza e os arrepios me faziam fechar rapidamente, pois, teus versos me conduzem a escrever sobre tuas incertezas. assim agora pretendo transar com os verbos de teus poemas. espero que o nada forneça a minhas ambiguidades teus suspiros poeticos, espero encontrar-mos para em devaneios inventar substantivos esponjosos e borrar os sentidos do reto so para enfatizar um efeito gume e desregular os estados de lucidez.em tuas escrituras encontro um metamorfoseamento de um sujeito que me acostumo assim como meus gestos, sou um desses loucos que a natureza esta sempre a inventar para se tornar a natureza humana um estado unoprimordial. ESTAMOS EM CONTATOS POR TODA A VIDA E ALÉM DE ONDE VAI AS MENTES. MAR E SON EM DISTORÇÃO COM A FICÇÃO E O REAL.
bombedou teus sacarmos de retubios em gente

candeceu homem ardo numa antropologia
aldeia de fagia no cume do mundo espero noticias suas de :
marsone
especulatividade@hotmail.com mar e son

Adelino Nunes Pinto said...

Legal. Boas poesias.